quinta-feira, 3 de novembro de 2016

HORA DE APRENDER A ESPERAR



Há alguns dias, ouvi um pregador relatar acerca de uma conversa que tivera com um senhor, nos Estados Unidos. Segundo aquele homem cristão e idoso, os supermercados prejudicaram muito às pessoas, quebrando-lhes a oportunidade de crescerem na arte da espera. O fato narrado apresentava o seguinte argumento central: Antes, as pessoas precisavam esperar que as frutas, como a manga, o abacaxi, o morango florescessem em cada respectiva estação. Logo, indivíduos podiam exercer a capacidade natural do aguardar. Era um tempo de valorização de eventos, segundo o experiente observador afirmava; contrastando, lamentavelmente, com nossa contemporaneidade: “Hoje em dia, jovens e adultos têm tudo na hora que querem, quando chegam aos centros de compras” – concluía.
          Curiosa e perspicaz observação daquele homem, a qual nos leva a refletir. Pois uma vez que vivemos a era da agilidade, da impaciência, da ansiedade, dos mimos existenciais;  a  maioria de nós não tem a paciência dos nossos antepassados. E parece que mesmo com tantos esforços para nos agradar, vivemos infelizes, insatisfeitos; somos garotos malcriados, exigentes. E as gerações seguintes, se tornam insuportáveis mais e mais, neste contexto. Querem tudo para ontem; a vida virou uma urgência. Aonde iremos parar? E o mais sério é que não existe um limite para o altíssimo grau de reclamações: sempre se quer mais e com maior velocidade.
          Se olharmos os relatos bíblicos, vemos sinais da impaciência: A pressa de Eva, a qual não teve o tirocínio de aguardar o retorno do Senhor à tardinha (digamos), para uma boa conversa de esclarecimento; a correria de Jonas, tentando fugir de Deus; a inconsequência de Esaú, ao ignorar sua primogenitura, na pressa de saciar o seu apetite; a pressa de Pedro que quase respondia, antes que Jesus terminasse suas proposições...
          Alguns outros sinais da falta de tolerância temporal ainda machucam as pessoas: Não se espera, compra-se antes do tempo, com recurso inexistente; não se planeja suficientemente, corre-se a empreendimentos, negócios, resoluções mal pensadas: as aventuras tendem ao fracasso e à dor, tornam-se desventuras.         
       Quando aprenderemos a esperar? Quando afirmaremos, convictamente, as palavras do salmo 40, versículo 1: ”Esperei com paciência pelo Senhor, e ele se inclinou para mim e ouviu o meu clamor“?
       Hora de rever nossos resultados; de recomeçar; de levantar, confessar e dizer: Deus, eu preciso começar minha nova fase com paciência. Se não for à vista, eu não comprarei pequenos objetos ou bens de consumo rápido. Não planejarei pela metade. Tomarei decisões sérias, após refletir calmamente. Respirarei muitas vezes, antes de reagir, ou pelo menos tentarei com mais força me irritar menos. Pararei de medir meus resultados pelos dos outros, e aprenderei a entender e respeitar minha individualidade. Enquanto espero na fila, olharei as nuvens no céu, lerei um livro tranquilo. Gastarei tempo rindo de questões leves e amenas. Visitarei pessoas idosas e ouvirei suas histórias, sem pressa. Ensinarei a paciência; lerei sobre isto, para poder ensinar. Se algum assunto ou campanha for proposta nas redes sociais, pesquisarei antes de opinar. Terei coragem de estudar mais as pessoas, meus familiares, meus clientes, meu trabalho, meus sonhos, meus pedidos de oração. Lerei os manuais de produtos eletrônicos, e pensarei sobre a água, e as vidas dos pinguins e as orquídeas. Tornar-me-ei mais tolerante, com as falhas das pessoas; sou falho também e muito. Aprenderei mais com Jesus: “manso e humilde de coração”; seguirei o conselho de Tiago:
          Portanto, irmãos, sede pacientes até a vinda do Senhor. Eis que o lavrador espera o precioso fruto da terra, aguardando-o com paciência, até que receba as primeiras e as últimas chuvas.(Tiago 5:7)


                          TÚLIO VASCONCELOS